sexta-feira, 5 de março de 2010

É precisar resistir, para continuar em frente

Continuam os ataques pessoais e as insinuações a José Sócrates e ao governo. Foi a licenciatura em engenharia, o Freeport. Agora é o controle da comunicação social. Até por fumar num avião fretado. Isto para não falar nos boatos sobre a sua vida pessoal.

Desde que foi eleito para secretário-geral e, sobretudo, na campanha eleitoral que deu a maioria absoluta ao PS, que José Sócrates é o diabo na terra.

Com uma oposição débil, sem soluções para o futuro do país, e vendo que as suas clientelas do meio empresarial já não podiam fazer o que lhes apetecia, José Sócrates passou a ser o mau da fita. Ainda bem, digo eu.

Nem os escândalos financeiros dos ex-ministros e ex-secretários de estado dos governos do Cavaco Silva (o homem impoluto que afinal se rodeou de corruptos) diminuiram a campanha da comunicação social contra Sócrates.

Importa tentar perceber porquê? Afinal a comunicação social precisa de escândalos para vender e ganhar dinheiro. Ok! Mas com outros tantos escândalos, alguns já referidos, porquê só bater no homem?

A minha convicção é que, para a direita, os governos do PS só servem os interesses económicos e sociais do país, se os beneficiários das suas medidas forem os lobbies empresariais. Por alguma razão o Belmiro de Azevedo defendia (e defende) a privatização da CGD, bem pouco antes da bancarrota financeira. Ele e outros defendiam (e defendem) a privatização da maioria dos serviços e sectores empresariais do estado. Porque a iniciativa privada é mais eficaz, mais produtiva, mais dinâmica.

Mas não foi a iniciativa privada que originou a crise em que vivemos? Não foram eles que despediram milhões de trabalhadores? Não foram eles que acumularam a riqueza produzidas nas empresas? E essa riqueza, produzida nas empresas, não foi obtida com o trabalho dos trabalhadores e os seus baixos salários? Ou foi apenas porque nas suas administrações e direcções estavam génios muito bem pagos?

Mas então este Sócrates não foi aquele que aumentou o salário mínimo como nunca antes? E alargou o período do subsídio de desemprego, e criou o subsídio complementar para idosos, e aumentou o subsídio de nascimento, e o alargou às gravidas, e aumentou o tempo de maternidade, e aumentou e largou o rendimento social de inserção.

Há mais? Claro que há. Quem passou a pagar o subsídio de desemprego 15 dias após o seu requerimento? Quem facilitou o acesso dos cidadãos aos serviços do estado via internet? Quem dinamizou a generalização da internet de banda larga a todo o país? Quem informatizou as escolas, os alunos e os professores? Quem desenvolveu a indústria das energias renováveis? Quem fez auto-estradas para o interior do país? Quem meteu o Metro do Porto nos carris? Quem fez e pagou todas as obras infra-estruturantes que mudaram a face de Gaia? Sejam vias de comunicação ou a recuperação e reconstrução das zonas ribeirinhas e da orla marítima.

Há mais? Quem introduziu o ensino do inglês nas escolas primárias? Quem passou a colocar os professores nas escolas por períodos de 4 anos, quando antes mudavam todos os anos? Quem pôs as escolas primárias a funcionar todo o dia? Quem tornou gratuitos os genéricos para os idosos? Quem renovou escolas secundárias? Quem foi?

E a despenalização da interrupção voluntária da gravidez? E o fim da descriminação sexual do casamento? Irra!!! Nunca mais acaba.

São tantas as medidas concretas, reais, tomadas pelos governos de José Sócrates, que só a contribuição da memória de todos as consegue recordar.

Mas, Sócrates, tem um pecado original.
Não facilitou, não deu à iniciativa privada o direito a tudo decidir.

Estou de acordo com tudo o que o Sócrates fez? Não! Umas vezes porque as medidas deviam ter sido mais contundentes para o capitalismo; outras, pela sua ausência.

Mas, carago, nem tudo o que eu faço me agrada a mim próprio...
 
Agostinho Lisboa

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